quarta-feira, outubro 11, 2006

A importância da massagem

Um mês e meio após o nascimento do meu filho, fui aprender massagem do bebé, num curso para pais aqui perto da minha casa.

As aulas eram muito importantes para mim, poder partilhar com os outros pais, e depois em casa eram momentos só nossos, de partilha de afectos, tal como amamentar. Eu sabia que era importante essa partilha, como forma de estreitar laços, diminuir o stress, mas sei agora que não era só isso.

A massagem aprende-se semanalmente, por segmentos. Por exemplo, pernas e pés... abdómen, braços e mãos... e quando chegámos ao rosto, que é dos últimos segmentos, apesar de até então tudo correr bem, foi com um pouco de tristeza que vi o meu filho não permitia. Nunca conseguia fazer-lhe massagem ao rosto, e, com ainda mais apreensão, comecei a entender que ele oferecia resistência quando se lhe tocava na cabeça. Por isso, evitava fazê-lo, para o não aborrecer. Confesso que não me fez assim tanta confusão, ou talvez seja mais sincero dizer que afastei isso do meu pensamento, convencendo-me que era uma opção dele, e um direito dele, que eu não o tocasse.

Algum tempo depois, o amor por esta arte e a vontade de ajudar outras mães e pais, moveu-me a tirar o curso de instrutora de massagem infantil do I.A.I.M.. Foi muito importante para o meu processo de crescimento como mãe. Aprendi muitas coisas sobre bebés, sobre estadíos, sobre o que fazer e não fazer numa aula. Mas o mais importante foi certamente que o nosso filho é o nosso professor. Que devemos observá-lo, captar sinais que eles nos dão, aprender dele o que ele precisa.

A dada altura, quando aprendíamos o segmento rosto, partilhei para o grupo que o meu filho não aceitava esta massagem. E a instrutora olhou para mim, com um sorriso no rosto e disse. Nasceu de fórceps!

Foi como um baque. Acordar de um sono.
Claro! O meu filho nasceu de fórceps... Como era possível que eu nunca pensara nisso antes!?

O meu filho foi arrancado e magoado nesse processo. Veio com a cabecinha toda torta e roxa... porque gostaria ele que lhe tocassem na cabeça trazendo essas más recordações???

Quando regressei a casa nesse dia e nos seguintes, pensei muito nisso. Em como os bebés tem recordações intra-uterinas e isso os afecta. Em como a forma como eles nascem influencia uma coisa tão simples e ainda assim tão complexa quanto o deixar que a mãe lhes toque. E ele deixava que eu o tocasse, no entanto, nem todo ele deixava.

Tomar consciência disso doeu muito. Cá dentro, como mãe, o facto do meu filho não me deixar tocar-lhe na cabeça ou no rosto, virando a cabeça, sacudindo-se, dando aos braços, fechando os olhos, chorando, tomou outras proporções. A ideia dos fórceps sempre me aterrorizou. Essa forma de nascer, se bem que por vezes necessária, era a que eu mais temia. E, estou convencida que foi por desconhecimento meu dos malefícios duma epidural, que ele nasceu desta forma. No entanto, estava feito, e agora, era preciso resgatar a confiança do meu filho. A confiança TOTAL do meu filho.

Não podemos massajar um bebé que mostra sinais de não querê-lo. Por isso, não o fazia. No entanto, via que ele gostava de se encostar à esquina do berço quando o deitávamos nele, puxando o corpo para cima. Ele esteve muito tempo encaixado antes de nascer, e era uma posição confortável para ele. Por isso, quando o tinha aninhado no colo, pousava devagar, muito devagar, a mão na cabeça dele... e deixava-a assim pousada porque ele permitia que eu o fizesse. Aos poucos, esse gesto foi-se tornando mais como uma pequena festa. Aplicava mais pressão, passava-lhe a mão pelo rosto, pelas têmporas.

Quando finalmente senti que ele estava preparado, fiz-lhe a massagem ao rosto, nas sobrancelhas, na boca... e ele deixou. Não só deixou como apreciava isso, sorrindo-me.

Hoje é com um nó na garganta que me delicio com as pequenas massagens que ele me faz ao rosto quando estamos os dois deitados na minha cama pela manhã... E isso é um bom sinal! A dor passou porque quebrámos a barreira e o meu filho sabe que pode confiar em mim.

Nalguns dias, esfrega as palmas das mãos uma na outra, como que a esfregar o óleo... tal como eu faço antes de me passar as mãos pelo rosto.

O óleo não está lá, é certo, mas para mim, como mãe, significa o melhor dos bálsamos...

Zélia Évora

8 comentários:

sissi disse...

é fantástico pensar que eles se lembram da vida intra-uterina...pena que nem sempre as recordações sejam as melhores...mas por outro lado de certeza que tb se lembram das festinhas que faziamos na barriga, das nossas conversas, da musica de embalar...
Adorava saber mais sobre massagem de bebé...qd estiveres para estas bandas com um curso avisa, hein?? Jokitas

Diana Bento disse...

És uma linda. O Francisco gosta que eu lhe coloque o creme no peito, farta-se de rir... e por estas bandas vais fazer algum curso?

Beijos grandes.

Soph disse...

"...o nosso filho é o nosso professor..."

FANTÁSTICO!!!

... está lindo Zélia!!!

Beijinho gigante para TODOS!

FadaMadalena disse...

Só posso dizer uma coisa... és uma MÃE LINDA !

Beijocas mágicas da fada para ti

Sónia e MI disse...

Que lindo!!!
Fiquei de boca aberta ao ler este post!
Muito obrigado por partilhares, o meu irmão tb nasceu de forceps , vou perguntar á minha mãe se se lembra de algo semelhante!

Ecojóias disse...

Olá novamente,

Nem tenho palavras, este post transborda de amor e ternura, ... pelo Rafael, pela massagem infantil, pela maternidade em si.
E este teu texto toca-me particularmente porque o Alexandre também nasceu de forceps. Ele gosta de massagens, das minhas, feitas à minha maneira,no entanto se eu aprender um pouco mais sobre as massagens é possível que descubra coisas novas sobre o meu filhote.

Obrigada pela partilha.

Beijinhos

Biskoita disse...

Tão lindo.. até me vieram as lágrimas aos olhos.

Fico muito muito feliz pela vitória da confiança total entre ti e o rafa.

Grilinha disse...

Massagem...se soubesses quanto o JP tem beneficiado com elas...acredito que têm quase tanto poder como os exercicios da fisioterapia...
E as festinhas que fazia na barriga...aos milhares...

Talvez seja por isso que toda a gente diz que ele é um menino muito meiguinho e gosta muito de nos tocar tb.

Um grande beijinho e espero que tenhas gostado do depoismento.